No mês de conscientização e combate ao câncer de mama, fui privilegiada com a oportunidade de ter um dos meus artigos publicados no Portal dos Hospitais Brasil!
Todos os anos neste período, eles dedicam um espaço portal para a divulgação de informações e eventos sobre o câncer de mama.
Você pode ver o meu artigo publicado no Portal dos Hospitais Brasil ou conferi-lo logo abaixo.
Artigo – Como estamos tratando nossos pacientes com câncer?
Apesar de ter sido sempre muito atenta a todas as queixas apresentadas pelos meus pacientes e muito carinhosa com todos eles, foi quando meu pai teve câncer e fez quimioterapia, que percebi como é importante nos aprofundarmos nessas questões na nossa rotina medica.
Sou oncologista e trabalhei no Instituto Nacional do Câncer (INCA), na unidade que trata câncer de mama por 7 anos. Meu pai é mastologista e em 2015 ele foi diagnosticado com com a doença. E então, passei a viver a rotina que acompanhei por anos com todos os meus pacientes. Só que dessa vez, eu era familiar de um paciente. Eu estava do outro lado.
Não foi fácil. Cada etapa do tratamento: exames, cirurgia e quimioterapia; foi sempre acompanhada de medo, insegurança e sentimentos que só quem vive, consegue dimensionar. Percebi também, que durante a quimioterapia, as queixas dos pacientes, só são abordadas com mais profundidade nos dias das consultas. E muitas vezes, os pacientes deixam de relatar vários sintomas, seja por não se sentirem à vontade com seus médicos, ou porque o tempo entre as consultas costuma ser relativamente longo.
Por isso, escrevi o livro “Como estamos?, um diário de fé e coragem”, para dividir a minha historia não só com os pacientes, mas com seus familiares, amigos e curiosos. Para mostrar que os sentimentos são os mesmos independente da nossa profissão.
Qual não foi a minha surpresa, quando nesse ano no maior Congresso de Oncologia do mundo, a ASCO, assisti na sessão plenária – a maior do evento – a apresentação de um estudo que traduzia cientificamente tudo que percebi durante minha vivência com meu pai e meus pacientes.
O estudo LBA2 com 766 pacientes, utilizou uma ferramenta online que permitiu aos pacientes relatarem seus sintomas em tempo real a uma equipe de cuidados, que pôde intervir precocemente na resolução dessas queixas. O resultado desse trabalho foi surpreendente: os pacientes com doença avançada que usaram a ferramenta, tiveram uma média de vida 5 meses maior em comparação com aqueles que não usaram esses sistema de coleta de dados e também toleraram a quimioterapia por mais tempo. Além disso, o uso dessa tecnologia foi associado a melhor qualidade de vida e menor numero de idas a emergência e intervenções hospitalares.
Esse resultado, pode parecer modesto, mas é muito maior do que várias drogas utilizadas para o tratamento do câncer atualmente. Fiquei muito feliz, ao ver o resultado desse estudo. Eu tive a comprovação de que estou no caminho certo. Há anos venho falando sobre a importância do tratamento multidisciplinar e de estarmos mais presentes em todas as etapas desse processo.
Agora, tenho todos os argumentos necessários para seguir lutando para um acompanhamento mais abrangente e humanizado aos pacientes que têm câncer. E sim, a luta não é só dos pacientes e familiares, é minha e de todos os profissionais que os cercam também!
Dra. Sabrina Chagas é médica oncologista e professora da PUC Rio