Novidades no Câncer de Mama

Será que vocês imaginam isso? 🤔

Existem algumas situações corriqueiras no meu dia-a-dia, que nem todo mundo sabe.

Por exemplo, quando pego meu telefone ao fim de um turno de ambulatório e vejo mais 200 mensagens, só pode ser uma de duas coisas:

1️⃣ Um dos grupos de whattsapp das mães da escola dos meus filhos indignados com algo ou com dúvidas sobre temas variados;

2️⃣ Pacientes ou amigos me pedindo comentários sobre alguma nova matéria sobre câncer que saiu na imprensa ou na mídia.

Essa semana essa agitação aconteceu 2 vezes 😱! E incrivelmente 😊, as duas eram sobre novidades sobre o câncer.
Seguem aqui ambas as reportagens e meus comentários a respeito. E podem deixar, qualquer notícia, sempre atualizarei vocês.

📌 Na semana passda, uma nova vacina contra o câncer de mama mais agressivo teve sucesso em teste com camundongos (Veja a imagem no post). Não é só a vacina contra o Covid que está sendo muito investigada!

O termo “vacina” quando aplicado em relação ao câncer, nem sempre é direcionado “apenas” para a prevenção. Muitas vezes, pode ser para o tratamento de alguma doença já existente.

Esse estudo, fala sobre mais um passo para o tratamento do câncer de mama triplo negativo (temos post nos DESTAQUES sobre o tema) metastático (quando existe doença fora da mama, em outro órgão) para o pulmão.

📌ESTAMOS MAIS PERTO…

É muito importante lembrar que, esse estudo ainda é feito em animais, então existe um caminho pela frente. Bem recentemente falei sobre o nível de evidência de cada etapa a ser seguida.

Há mais de 10 anos, já estão em desenvolvimento tratamentos como esse. E sim, estamos mais perto.

Vou falar aqui de forma beeeeeeem resumida, mas tentando dar um panorama geral para vocês:

A principal estratégia dessas vacinas consiste em pegar moléculas das células do tumor e usar nelas substâncias que permitam que o corpo as reconheça e as destrua. O procedimento tenta driblar o principal mecanismo de ação do câncer, que é justamente impedir que o corpo identifique o crescimento desordenado das células do próprio paciente como uma ameaça.

Os pesquisadores buscaram fazer com que o medicamento tivesse a efetividade da quimioterapia (tratamento que utiliza medicamentos para destruir as células doentes) e a eficácia de longo prazo da imunoterapia (que auxilia o próprio sistema imunológico do paciente a identificar e combater o câncer).

Para isso, uma combinação de ambas as técnicas foi utilizada. E deu certo.

📌CONCLUSÃO

Os camundongos com os tumores de mama triplo negativo, assim que receberam a combinação das medicações, tiveram um resultado melhor na penetração da droga em seus tumores, o que aumentou a taxa de células cancerígenas mortas, e reduziu os riscos da produção de tumores metastáticos nos pulmões do que os outros grupos.

As análises mostraram, então, que ambas as partes da vacina — a ligada à imunoterapia e a ligada à quimioterapia — estavam ativas.

O próximo passo é chegar na fase pré-clínica de testes e depois, eventualmente, aos testes em humanos. De todo modo, uma boa notícia para a ciência.

📌FDA APROVA PEMBROLIZUMABE

Em 13 de novembro de 2020, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA concedeu aprovação acelerada ao pembrolizumabe (Veja a foto no post) (Keytruda) em combinação com quimioterapia para o tratamento de pacientes com câncer de mama localmente avançado (quando já o tumor está grande na mama) ou metastático triplo-negativo cujos tumores expressam PD-L1 (detectado através de um teste).

A aprovação foi baseada no estudo de fase III KEYNOTE-355.

Um estudo multicêntrico, duplo-cego, randomizado (lembram do penúltimo post sobre os estudos?), nos pacientes com o perfil citado anteriormente, que não haviam sido previamente tratados com quimioterapia (ATENÇÃO a esse detalhe!).
Os pacientes foram designados aleatoriamente para receber o imunoterápico pembrolizumabe em combinação com diferentes tratamentos de quimioterapia ou a quimioterapia sozinha. O principal desfecho de eficácia foi o aumento do tempo para que houvesse progressão.

Fica aqui, uma nova opção (e não uma REGRA) de medicamento para esse subtipo de câncer de mama.

Esse sim, um estudo consolidado e seguro.

📜 REFERÊNCIAS
WANG, H; NAJIBI, A J. et al. Biomaterial-based scaffold for in situ
chemo-immunotherapy to treat poorly immunogenic tumors. Nature Communications. (2020) 11:5696
CORTES, J; CESCON D. W; KEYNOTE-355: Randomized, double-blind, phase III study of pembrolizumab + chemotherapy versus placebo + chemotherapy for previously untreated locally recurrent inoperable or metastatic triple-negative breast cancer. Journal of Clinical Oncology 38, no. 15_suppl (May 20, 2020) 1000-1000