A LUTA contra o câncer

A LUTA contra o câncer
No último domingo, postei uma série de stories com recortes de reportagens da imprensa.
TODAS falavam de doenças graves, porém só as que falavam sobre o câncer usavam a palavra “LUTA” na legenda.
Recebi inúmeras mensagens de pacientes. Algumas com raiva, algumas tristes, mas TODAS incomodadas com o fato de o diagnóstico de câncer ser relacionado a uma luta/batalha/guerra.
Mas será que existe algum motivo para que isso aconteça?
Embora também me incomode MUITO a terminologia “LUTA”, vou trazer aqui algumas questões históricas do motivo do câncer carregar esse estigma tão forte.
O câncer é uma das doenças mais antigas que temos conhecimento: pesquisas mostram fósseis de dinossauros com lesões sugestivas nos ossos, papiros do Egito Antigo descrevendo o câncer de mama, entre outros.
Apesar disso, seu tratamento é relativamente recente.
A radioterapia começou a ser utilizada como tratamento no século XIX e foi apenas nos anos 40, na Segunda GUERRA Mundial, que a quimioterapia passou a ser realizada.
E, como antes desse período, a doença não tinha um tratamento curativo definido, era considerada incurável.
Dessa forma, a expressão “câncer social” era usada rotineiramente para vários problemas crônicos da sociedade: racismo, corrupção, escravidão, etc.
Nessa época, outras doenças crônicas já tinham medicações e condutas estabelecidas, entre elas a diabetes (a insulina foi descoberta em 1921) e grande parte das infecções (em 1928, a penicilina).
Por se tratar de uma doença pouco conhecida e agressiva (não existiam muitos tratamentos, lembra?), muitos acreditavam que era causada por doenças venéreas.
Há relatos de que nos hospitais os pacientes ficavam em enfermarias escondidas, juntamente com os portadores das doenças que eram consideradas motivo de “vergonha” na época (as s#xu4lmente transmissíveis).
Por isso, as pessoas não pronunciavam a palavra “câncer”.
Com a guerra, houve uma mudança do discurso: já que foram descobertas as medicações (a quimioterapia) para esse “inimigo”, a linguagem bélica (de guerra) passou a ser usada.
Tanto que, em 1971, o presidente Richard Nixon (EUA) declarou “GUERRA CONTRA O CÂNCER” com a intenção de impulsionar pesquisas de novos tratamentos para acabar com, segundo ele, esse “inimigo implacável “.
E assim, a ideia de guerra/batalha seguiu sendo transmitida através das gerações.
Mesmo com tantas doenças com desfechos ruins, sem tratamentos definidos e com a oncologia evoluindo rapidamente, como evolui a cada ano.