Seguindo pelas nossas revisões da revista The Cancer Journal, vou começar pelo capítulo mais badalado em todas as conversas relacionadas ao câncer: DIETA. Na verdade, o texto gira mais em torno de como ajudar os pacientes a se alimentarem melhor durante e após o câncer.
Sabemos que o sucesso do tratamento pode ser comprometido, quando há uma ingesta nutricional ruim. Isso, eventualmente, ocorre pelos efeitos colaterais que podem levar a uma perda muscular e ao ganho de peso. Por sua vez, quando passa esse período, se os pacientes não seguirem orientações adequadas de alimentação podem aumentar o risco de recidiva da doença.
Diretrizes devem ser desenvolvidas tanto para os pacientes como para os profissionais de saúde entenderem como se posicionar acerca do tema.
Idealmente, o aconselhamento nutricional se inicia antes do tratamento, permanece durante e não termina após seu término. Deve seguir por toda a vida, se possível. Assim, programamos a ingesta de calorias e proteínas para manter a massa muscular e ajudamos a manter uma dieta satisfatória durantes as terapias prescritas, mesmo com os sintomas existentes.
Essas orientações variam de acordo com os hábitos culturais de cada indivíduo, o tipo de câncer e do tratamento. Se possível, todos devem seguir as recomendações do AICR(American Institute Cancer Research) e do ACS(América Cancer Society) que basicamente tem os seguintes alvos :
📌 Aumentar a ingesta de frutas, vegetais e grãos integrais (5 ou mais porções/dia);
📌 Diminuir o consumo de carne vermelha e comidas processadas/embutidas e bebidas açucaradas;
📌 Não comer fast-foods;
📌 Aumentar a atividade física (150 minutos /semana );
📌 Se manter com um peso adequado;
📌 Diminuir a ingestão de álcool;
📌 Não fumar e pegar pouco sol.
🔸 E A DESNUTRIÇÃO?
A desnutrição ocorre em alguma etapa do tratamento em até 80% dos pacientes .
Esse desequilíbrio colabora para o risco da doença voltar, para a morte pela doença, leva a atrasos no tratamento, piorando a qualidade vida, aumentando as visitas ao hospital, internações e também os gastos com a saúde.
Muitas vezes nem o médico nem o paciente percebe que está desnutrido. Até porque, é comum obesos fazerem parte desse grupo. Engana-se quem pensa que desnutrição está presente apenas em pacientes magros. A ingestão de comida com nutrientes essenciais ao nosso organismo, não está apenas relacionado ao peso. Por isso, sempre precisamos de um acompanhamento com o NUTRICIONISTA. Ele é fundamental!
🔸 MAS E A OBESIDADE?
Da mesma forma, precisamos reconhecer o sobrepeso e os diversos graus de obesidade existentes. Lembrando sempre que a obesidade reflete um desequilíbrio entre a energia (calorias) consumida e gasta no nosso organismo.
Estar nesse grupo, aumenta não só o risco de câncer, como os efeitos colaterais com o tratamento e suas complicações.
O número de pacientes que chegam obesos na primeira consulta é enorme e tendemos a orientar que a perda de peso, deve ser gradual e não de forma repentina. Devemos mudar hábitos para uma vida saudável, e não adotar essas medidas de forma rápida e em períodos curtos.
Pacientes obesos devem ser avaliados também quanto a SARCOPENIA. Essa palavra “esquisita”se refere a pessoas com peso alto, porém com pouca massa muscular(músculos). Isso leva a um cansaço excessivo durante o tratamento, entre outros sintomas e consequências. Cerca de 50% dos indivíduos com diagnóstico recente são desse grupo e cabe ao profissional nutricionista o diagnóstico e orientações.
Todas as normas elaboradas por instituições de referência afirmam que não existe nenhuma dieta “da moda” ou suplemento alimentar que “sirva” para TODOS os pacientes. A dieta pode variar EXTREMAMENTE de acordo com o contexto de cada paciente. Todos nós somos ÚNICOS e devemos receber cuidados individualizados de acordo com nossa realidade.
Todas essas recomendações são baseadas em estudos enormes, que nos dão a garantia de estarmos orientando um caminho de qualidade e segurança. A maioria dos estudos que comprovam esses benefícios foram feitos em pacientes com câncer de mama, próstata, cólon (intestino) e endométrio.
Alguns mostram que, o risco maior pode estar relacionado ao quanto de gordura(índice) que temos e não somente ao nosso peso.
Outra curiosidade, estudos mostram que apenas 17% dos pacientes com câncer consomem 5 porções de frutas e vegetais por dia. E que 23-40% se exercita 150 minutos por semana !
Uma revisão com mais de 51 estudos feitos com sobreviventes de câncer, mostrou que apenas 23% aderem a essas mudanças de hábitos de vida.
Há muito que mudar! A luta é grande e não vamos desistir!
Mas porquê é tão difícil mudar hábitos de vida com tantas evidências sobre a importância deles ?
E mais: porque é tão difícil MANTER os hábitos saudáveis?
Algumas razões são:
📌 Pouco acesso a informação;
📌 Pouca persistência,
📌 Barreiras motivacionais e estruturais (pouco acesso a comida saudável e locais para exercício, etc ).
Mas em contrapartida, estudos mostram que 80% das sobreviventes de câncer de mama estão motivadas a participar de programas para mudanças desses hábitos.
Por isso temos que falar sobre o tema, dar ideias, ter acesso a profissionais e lutar para medidas governamentais com esse olhar !
Existem trabalhos que estão sendo realizados com o envio de mensagem pelo celular lembrando do cumprimento de metas de dieta e exercício. Assim como, programas em grupos de amigos, podem ser extremamente fáceis de aderir. Juntos conseguimos ir mais longe! Deixe sua dúvida aqui.
1️⃣ World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research.
Diet, Nutrition, Physical Activity, and Cancer: A Global Perspective. Continuous Update Project Expert Report. Washington, DC: American Institute
for Cancer Research. 2018.
2️⃣ Rock CL, Doyle C, Demark-Wahnefried W, et al. Nutrition and physical activity guidelines for cancer survivors. CA Cancer J Clin. 2012;62:242–274.
3️⃣ Greenlee, Heather; Santiago-Torres, Margarita; McMillen, Kerry K.; MoreThe Cancer Journal. 25(5):320-328, 2019.