Depois de 5 anos posso dizer que estou curado?

Vamos com calma “Lá vem ela de novo!”

Acho que devem pensar isso quando leem essa fase. Mas é MUITO importante que entendam que cada história é ÚNICA!

Sempre que recebemos um paciente pela primeira vez no consultório, avaliamos: qual é a doença, se ela cresce rápido ou devagar, qual seu tamanho, entre vários outros fatores.

Qual o próximo passo? A partir daí definimos o tratamento e, mais adiante, como será feito o acompanhamento e a frequência das consultas.

Nós nos apoiamos em dados científicos e estudos com milhares de pessoas para estimar o risco da recidiva. Mas NÃO SABEMOS EXATAMENTE em quem a doença vai voltar e em quem não vai.
E falar isso é essencial porque vejo muitos pacientes que ficam extremamente ansiosos a cada exame e que, de certa forma, paralisam suas vidas com o medo da recidiva.

Temos algo a fazer? TEMOS!

Acho que devemos tentar focar no que podemos fazer para diminuir o risco, e não no números de pesquisas (esses não mudamos!).

Eu não sei se vai voltar ou não. Sei que estamos fazendo TODOS os tratamentos necessários para diminuir ao máximo esse risco, e que podemos mudar hábitos de vida para DIMINUIR AINDA MAIS.

E seguiremos JUNTOS nessa caminhada.

Mas e os 5 anos?

O que sabemos é que quanto mais o tempo passa, menor o risco da doença “voltar”. Mas não sabemos de onde veio exatamente o uso do número 5 nas perguntas do consultório.

Talvez porque em alguns estudos a métrica usada para cálculo de risco geralmente são 5, 10 anos…

Algumas doenças sabemos que se não “voltarem” em 2-3 anos a chance é muito pequena de recidivar mais tarde. Por exemplo: pulmão, pâncreas, estômago, mama triplo negativo, etc.
Lembrem-se: isso NÃO é uma regra! Outros, como mama hormônio positivo, podem ter recidivas mais à frente (mas NÃO SÃO TODOS)

O que temos?

Hoje, por exemplo, prescrevemos a hormonioterapia (tenho vários posts aqui do tema) por até 10 anos para parte das pacientes com câncer de mama hormônio positivo (tem que ter indicação definida pelo médico) Com isso, podemos prolongar ainda mais a proteção.

A cada ano descobrimos novas maneiras para saber quais pacientes têm mais riscos ou não. Da mesma forma, novos tratamentos aparecem. Assim, vamos tendo novas abordagens e olhares sobre o tratamento do câncer.

Um alerta

É comum os pacientes oncológicos deixarem suas consultas exclusivamente nas mãos dos oncologistas e dos cirurgiões que lhes operaram.

Somos muito mais que um câncer! É necessário seguirmos com os exames de rotina que seriam feitos mesmo sem a história da doença.

Precisamos realizar preventivo (mulheres), exames de sangue (para ver níveis de colesterol, glicose, etc), aferir a pressão arterial (doenças cardiológicas matam mais que câncer, sabiam?), ir ao cardiologista, a partir dos 45 anos realizar uma colonoscopia (quem tem história familiar, a idade pode variar) e assim por diante.

Vamos seguir

Não é fácil ter o diagnóstico de um câncer, muito menos passar pelo tratamento. E ainda por cima o medo da doença voltar visita nossa mente com frequência.

Mas sempre digo, por qual motivo curamos um câncer se não vamos tentar viver mais felizes a cada dia?

Sempre que o medo vier, afaste ele é siga! Muitas vezes isso é muito difícil e será importante contar com apoio de uma equipe com psicólogo, entre várias abordagens possíveis.

E o que mais?

Mantenha hábitos de vida saudáveis.

Se for difícil, busque ajuda para isso. Autocuidado sempre! Realize seus exames de rotina não relacionados à doença (e os relacionados também, rs).

✨Aproveite os momentos de alegria de cada dia. E siga adiante. ✨

Tenho certeza que, às vezes, quando escrevemos frases como: “Siga adiante”, “façam exercício”, “tentem não pensar nisso o tempo todo”, etc, o primeiro pensamento que vem é ” SÓ QUEM VIVE SABE O QUE PASSA” ou ” QUERIA VER SE FOSSE COM ELA, ELA ACHARIA TÃO FÁCIL ASSIM”.

Vocês estão certas! Nunca saberemos o que sente o outro. Nunca saberemos, por exemplo, a dor de uma mãe que perde um filho, o sofrimento de um negro que tem um estádio de futebol inteiro o chamando de macaco (sim, estou falando de @vinijr), a dor de uma avó que tomando conta de seu neto, o viu morrer na piscina, por um pequeno momento que relaxou (história real).

NUNCA saberemos a dor do outro. Alguns se revoltam, outros deprimem, outros se descobrem fortes e ainda positivos. Foi por viver 10 anos atendendo presidiários no Carandiru, que Drauzio Varella compartilhou conosco a dura realidade de lá. E pôde nos sensibilizar tanto diante daquela realidade. Irmã Dulce, passou a vida se dedicando aos pobres. Quantas histórias ela ouviu? Quantas dores ela sentiu na alma, por ser empática à dor do outro. Será que ela não sofria junto com tantos que ajudou? Será que ela não vivenciava todos os dias versões completamente diferentes do que significa sofrimento? Cada um sente sua dor.

Quando passei a ser familiar de paciente oncológico, iniciei uma nova jornada na minha profissão. Os livros que escrevi, o Instituto @nossopaporosa , a #medicinaintegrativa , os #cuidadospaliativos e agora, o #advocacy .
Eu não conheço a dimensão da dor de ninguém. Conheço a dimensão das angústias e das dores que vivi.
E com tudo que sinto e vivencio todos os dias, ao lado de vocês, que quero sempre estar aqui para acolher, ouvir e trazer o que há de melhor a ser feito dentro da Oncologia para todos.

Que consigamos fazer essa caminhada com amor. Ele sempre será o caminho. Ontem recebi um mensagem e quis trazer pra vocês❤: “Quando a gente escuta o outro está dizendo para ele: Eu tenho um lugar pra você em mim.”