O mês da mulher e as dificuldades durante o tratamento de câncer: Divórcios e o abandono.
A jornada do câncer de mama costuma ser difícil e dolorosa para toda a família e não apenas para a pessoa que recebe o diagnóstico.
Estudos mostram que a taxa de divórcios é mais alta em casais que enfrentam o câncer de mama. Cerca de 20% dos casais se separam durante o tratamento.
Além do divórcio, muitas mulheres experimentam abandono. Isso inclui desde a falta de apoio emocional e financeiro até a saída da casa onde moram.
Acho sempre importante trazer dados para vocês:
– Journal of Clinical Oncology 2018: analisou a associação entre o diagnóstico de câncer de mama e a separação conjugal em mulheres dinamarquesas. Os resultados mostraram que as mulheres com câncer de mama tinham um risco significativamente maior de divórcio do que as mulheres sem a doença. Além disso, o risco de divórcio era maior nos primeiros anos após o diagnóstico.
– Revista Cancer 2017: avaliou a relação entre a saúde mental e a qualidade de vida de mulheres com câncer de mama em relação ao abandono conjugal. Os resultados mostraram que as mulheres abandonadas tinham uma saúde mental significativamente pior do que aquelas que estavam em um relacionamento estável. Além disso, a qualidade de vida também foi afetada negativamente.
– European Journal of Cancer Care 2016: analisou as razões para o divórcio e a separação em mulheres com câncer de mama. Os resultados mostraram que as principais razões eram problemas de comunicação, mudanças no papel do cuidador e dificuldades financeiras. Além disso, a falta de apoio emocional e o medo da recorrência da doença também foram citados como fatores que contribuem para o divórcio.
Esses dados deixam clara a importância do diálogo franco entre os casais e do apoio psicológico não só para a paciente como para toda a família. Será que dividimos nossas angústias com nossos companheiros, será que eles compartilham conosco seus medos e ansiedades. Casamento é sobre isso também!
Existem dados nacionais:
Segundo um estudo realizado pela Universidade de São Paulo, cerca de 40% das mulheres com câncer de mama em tratamento passam por uma separação conjugal ou pelo abandono do parceiro. Isso ocorre porque a doença traz mudanças significativas no estilo de vida, na autoestima e na saúde emocional das mulheres, além de afetar a dinâmica dos relacionamentos.
Além disso, as mulheres que se separaram eram mais jovens, tinham menor escolaridade e menor renda do que as que permaneceram casadas.
É importante destacar que o abandono feminino em casos de câncer de mama não é sempre uma questão de escolha ou falta de amor. Muitas vezes, a sobrecarga de responsabilidades, o medo e a dificuldade de lidar com as emoções da doença acabam gerando um distanciamento emocional do parceiro, que não sabe como lidar com a situação.
Outro dado alarmante é que, a violência doméstica também aumenta entre essa população. Isso pode acontecer a partir da sensação de vulnerabilidade e dependência de seu parceiro ou familiares durante o tratamento. Esses sentimentos podem ser explorados pelo parceiro para exercer controle e violência. Além disso, o estresse e a ansiedade do tratamento podem exacerbar os problemas preexistentes do relacionamento e levar a comportamentos violentos.
ATENÇÃO: Qualquer forma de violência, seja física, psicológica ou sexual, é inaceitável e ilegal. Se você está passando por isso ou conhece alguém que esteja enfrentando essa situação, busque ajuda imediatamente. Existem organizações de apoio a mulheres em situação de violência que podem oferecer suporte e orientação. No Brasil, o número da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) é uma opção para pedir ajuda e denunciar casos de violência.
Mais estatísticas sobre Violência doméstica:
– Journal of Clinical Oncology 2020: descobriu que as mulheres com câncer de mama tinham duas vezes mais chances de experimentar violência doméstica do que as mulheres sem câncer de mama.
– Supportive Care in Cancer 2015: relatou que cerca de 20% das mulheres com câncer de mama sofrem violência doméstica durante o tratamento.
– Breast Cancer Research and Treatment 2019: avaliou a prevalência de violência doméstica em mulheres com câncer de mama em tratamento. Os resultados mostraram que 17,9% das mulheres relataram ter sofrido violência doméstica durante o tratamento. Além disso, a presença de violência doméstica foi associada a piora da saúde mental e qualidade de vida dessas mulheres.
– Supportive Care in Cancer em 2017: Mostrou que 27,8% das mulheres com câncer de mama relataram ter sofrido violência doméstica desde o diagnóstico da doença. A violência doméstica foi associada a uma piora na qualidade de vida e na adesão ao tratamento.
Todos esses dados mostram a importância de um cuidado integral às mulheres em tratamento de câncer de mama, incluindo a identificação e o tratamento de possíveis casos de violência doméstica. É fundamental que as mulheres tenham acesso a serviços de apoio e proteção, bem como a acompanhamento psicológico para lidar com as consequências emocionais da violência.
Durante o tratamento do câncer de mama, o apoio da família e amigos é essencial. É importante lembrar que ninguém deve passar por isso sozinho. Não hesite em pedir ajuda e apoio emocional e prático para os entes queridos.
Enfrentar o câncer de mama pode ser uma batalha difícil, mas com o apoio da família e amigos, muitas mulheres conseguem superar essa fase difícil e se tornam ainda mais fortes e resilientes. Não se esqueça de cuidar de si mesma durante o tratamento e nunca hesite em pedir ajuda. Você não está sozinha. Não só agora mas sempre. Março é considerado o mês da mulher.
O Dia Internacional da Mulher teve origem em uma série de protestos e manifestações liderados por mulheres trabalhadoras na Europa e nos Estados Unidos no final do século XIX e início do século XX. Esses protestos pediam melhores condições de trabalho, direitos políticos e igualdade de gênero. Em 8 de março de 1917, institui-se a data oficialmente, na Rússia, após uma greve de trabalhadoras. Desde então, é considerada como um dia de conscientização, mobilização por direitos, igualdade de gênero e combate á violência contra as mulheres.
Temos diversas pautas urgentes e no contexto oncológico, não é diferente. Precisamos falar sobre a solidão que a mulher com câncer vive. Aliás, se mesmo com suporte familiar e social, é comum a sensação de estar sozinha, imaginemos a rotina daquelas que se divorciam ou são abandonadas por seus companheiros.
O apoio emocional e a preservação dos laços afetivos são essenciais para que as mulheres em tratamento possam enfrentar a doença com mais força e determinação. Se você conhece alguém nessa situação, ofereça seu apoio. Pequenos gestos podem fazer toda a diferença.
Quero ouvir vocês, já passaram ou conhecem alguém que passou por isso?
Referências:
•Oliveira, S.A. 2012: Separação conjugal após diagnóstico de câncer de mama.
•Carlsen, K. 2018. Can a cancer diagnosis cause divorce?
•Palesh, O. 2017. Association of cancer-related symptoms with psychological and social factors in women with non-metastatic breast cancer.
•Kim, Y 2016. Cancer caregiving predicts physical impairments: Roles of earlier caregiving stress and being a spousal caregiver.
•Johansson, A. L. 2013. Increased risk of divorce in women with breast cancer in the early phase of disease.
•Ghajarzadeh, M. 2017. Abandonment in Women With Breast Cancer.
•Jensen JMB, et al. Relationship Dissolution in Couples Coping With Breast Cancer.
•Litzelman K. Association of Caregiving With Mental Health, Quality of Life, and Physical Health Among Women With Breast Cancer: A Systematic Review.