Por que depois do câncer de mama, minha vida sexual mudou tanto?
Muitas vezes deixado de lado durante e após o tratamento (será que antes também?), o sexo é, sim, importante em nossas vidas.
O tema nem sempre é abordado nas consultas, seja porque o médico não pergunta ou porque o/a paciente não se sente à vontade em falar.
Devemos e merecemos entender o que acontece e ir em busca do PRAZER.
Raramente a causa é uma só, mas um somatório de causas!
Vamos por etapas:
Antes mesmo de começar o tratamento, assim que recebe o diagnóstico, o/a paciente já tem seu bem-estar comprometido.
O medo da doença e das etapas que virão, a ansiedade em fazer exames para iniciar o tratamento logo, a preocupação com o trabalho, a família frente às mudanças da rotina e a tristeza são alguns dos sentimentos que dominam esse momento.
Durante:
Caso a cirurgia seja o primeiro tratamento: a mama representa grande parte de nossa feminilidade. Alterar nossa imagem corporal é tirar a identidade que carregamos há anos. É comum não sabermos lidar com isso e é frequente o medo da rejeição do/a parceiro/a.
Caso a quimioterapia venha a primeiro: o cabelo faz parte da nossa imagem, ele compõe nosso rosto. Perdê-lo, assim como a mama é, é impactante.
Além de vários sintomas, a quimioterapia pode induzir a menopausa. Com isso temos a diminuição da libido, alteração de humor, ressecamento vaginal, entre outros.
Depois:
O tratamento acabou, mas nem sempre as coisas voltam ao normal imediatamente.
Se a paciente for candidata a hormonioterapia (tema com vários posts aqui), seguirão os sintomas da menopausa já citados.
Nesse momento as consultas começam a ser menos frequentes, os familiares vão voltando as suas rotinas, mas o corpo ainda não voltou ao normal e a ansiedade ainda persiste (ou às vezes pode aumentar). A vida ainda está se ajustando a esse novo momento.
Vamos falar um pouquinho sobre o sexo?
Sexo ainda é um tabu. Infelizmente.
Na maioria das vezes quando falo de masturbação e sobre prazer feminino, vejo olhares se desviando ao chão.
Depois de tantos momentos difíceis durante o tratamento, é importante um mergulho para dentro de nós mesmas. Saber o que nos dá prazer (em nosso corpo!) é fundamental.
Se a libido está baixa, vamos encontrar formas de ativá-la. Ver filmes, ler livros, usar acessórios, as possibilidades são muitas.
Algo mais?
Sim.
Sugiro olhar para seu/sua parceiro/a e entender que ele/a também pode estar confuso/a. Respeitar seu espaço e o seu tempo muitas vezes significa abrir mão do desejo por você. É um recomeço para ele/a também.
Tente conversar sobre sexo. Lembrar que sexo não é só o ato em si, mas inclui preliminares e ações que começam até antes delas. Namorar e resgatar momentos que antes traziam cumplicidade.
E não, não é fácil.
O corpo mudou: cicatrizes, cabelo, pele, metabolismo leeeentoooo…
Alguns casamentos já estão ruins há anos e as dificuldades se exacerbam com câncer.
Ainda existe medo, angústias, tudo o que foi vivido ainda está sendo compreendido.
É um processo! Não existe fórmula mágica.
São tentativas, caminhos, possibilidades.
Permita-se viver tudo no seu tempo.
Chorar faz parte também.
Muitas vezes precisamos de apoio.
Conecte-se com profissionais.
Para os mais variados sintomas, existem abordagens diferentes.
Por exemplo: para o ressecamento vaginal temos desde lubrificantes, fisioterapia pélvica e até laser.
Da mesma forma para os sintomas da menopausa (tenho um post lindão aqui sobre ela) e sintomas psicológicos, temos tratamento.
1% a cada dia, busque seu autocuidado e um caminho para ser feliz.