Vamos falar sobre Fake News

No último sábado, estive no quadro “Bem-Estar” do programa “É de Casa”, na Globo.
Fiquei muito feliz com o convite, principalmente porque a entrevista era sobre os mitos que existem sobre o câncer, algo que falo muito por aqui. Mas a repercussão foi enorme e resolvi voltar a falar sobre FAKE NEWS, simplesmente porque elas parecem dominar o mundo de notícias na Oncologia!
Precisamos falar sobre isso!
📌 INFODEMIA
Há uma epidemia de desinformação no ar! Em 2020, a Organização Mundial da Saúde chegou a classificar a onda de boatos da pandemia como INFODEMIA. Por definição, trata-se de “um excesso de informações — algumas precisas, outras não — que dificultam o acesso a fontes e orientações confiáveis quando as pessoas delas precisam”. Apesar da denominação recente, o fenômeno aumenta desde o início do milênio, acompanhando o crescimento das mídias e do universo virtual.
📌 Em fevereiro de 2020, uma reportagem na “Veja Saúde” me chamou a atenção:
“Mídia x Diagnóstico de Câncer”
Nela, vemos o impacto das mídias e imprensa no diagnóstico precoce e cura em pacientes com câncer de mama.
83% das pacientes da pesquisa tinham acesso à internet, sendo que 66% dessas usavam o Facebook e 45% se informavam sobre o câncer em sites e blogs. Sim, ela pode ajudar. E muito! Temos que saber tirar da Internet, o que ela nos oferece de melhor. Por outro lado, um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), publicado na revista Science em 2020, revelou que as notícias falsas se espalham 70% mais rápido do que as verdadeiras, e alcançam muito mais pessoas. Em meio a todo esse cenário, às vezes, é difícil saber o que é verdadeiro ou não. São inúmeros os boatos sobre o câncer.
Após o diagnóstico, o paciente e os familiares se deparam com um turbilhão de emoções e sentimentos, que os tornam frágeis e suscetíveis a aceitar e a acreditar em curas milagrosas.
Em todas as profissões existem charlatões, infelizmente. Aprender a identificar as notícias verdadeiras, perguntar à sua equipe de saúde, entender questões relacionadas ao diagnóstico e tratamento é essencial para que o paciente siga seguro durante e após seu tratamento.
– Que os tratamentos naturais e milagrosos estão entre as notícias que mais geram o lucro no “mercado de notícias falsas”;
– Substâncias supostamente naturais e que teriam efeitos superiores aos de remédios também são vendidas online com discursos sem embasamento científico;
– Em material direcionado ao combate de tumores, por exemplo, pessoas pagam até 1.164 reais para ter acesso a um protocolo “100% natural” capaz de reverter a doença com uma “cura universal”, o que não existe, explicam especialistas.
📌 Atenção, pessoal:
Não estou falando que produtos naturais estão proibidos durante o tratamento. Mas quem viu a entrevista do último sábado entendeu que o câncer é uma doença EXTREMAMENTE complexa e que envolve VÁRIAS DOENÇAS diferentes. Sendo assim, não existirá uma cura ÚNICA para todos os cânceres. Lembrem-se: temos vários tratamentos eficazes, temos prevenção e sim, hábitos de vida saudáveis previnem e diminuem o risco de recidiva.
📌 Por fim, deixo aqui um pedido de CAUTELA.
Sabemos que até 80% dos pacientes oncológicos usam terapias/substâncias complementares durante o tratamento e só 14% comunicam a sua equipe. Isso é muito grave! Existem vários produtos que podem interagir com a quimioterapia, por exemplo. Temos muito a fazer além do tratamento medicamentoso para diminuir sintomas e melhorar a qualidade da vida, mas é importante ter o apoio e a liberação dos profissionais de saúde. E qualquer dúvida, estou por aqui!
📌 Bastidores da Vida:
Comecei meu Instagram em 2017. Numa época onde poucos profissionais de saúde tinham mídias sociais.
A ideia surgiu logo após eu lançar meu livro (um diário baseado em minhas trocas de WhatsApp com meu pai, durante seu tratamento de câncer de mama). Eu achei que o livro ia ser útil para os profissionais de saúde entenderem como é viver o outro lado, o de paciente e de familiar de paciente. Mas rapidamente o livro teve um alcance enorme entre os pacientes. Quando compartilhei os meus sentimentos e dificuldades durante a caminhada, quem passava pela mesma coisa se sentia acolhido. Comecei a ser chamada para dar muitas palestras e percebi que havia uma demanda enorme de esclarecimentos sobre o câncer. E assim, comecei a fazer posts sobre tudo que me era perguntado. Sempre falando de forma clara para que fosse fácil o entendimento de todos.
Muitos colegas achavam inovadora DEMAIS (para não dizer que debochavam) minha escolha pelas mídias.
Hoje são poucos os colegas que não têm uma conta no Instagram com o mesmo propósito que sempre tive.
Nesses quase seis anos tratamentos inovadores chegaram, os pacientes estão vivendo mais e melhor, a comunicação está mais acessível, mas os temas MAIS procurado ainda são OS MITOS! Sutiã causa câncer? Desodorante? Amamentar? Microondas? Etc. (Todas essas dúvidas respondi no programa de sábado e o link tá no final do texto)
Sem contar todos as dezenas de produtos que todos os dias alguém diz que vai curar absolutamente tudo e todos os tipos de câncer. Cuidado pessoal, muito cuidado.
Todos aqui sabem que fiz a formação em Medicina Integrativa, que dou aula de Oncologia Integrativa e há muita confusão sobre esse tema (temos posts aqui sobre isso também).
Mas não confundam as práticas que podem diminuir os efeitos colaterais e melhorar hábitos de vida, com promessas infundadas.
Chequem as informações, dividam com seus médicos e qualquer coisa…estou por aqui ❤️.
Para rever minha entrevista, clique aqui: https://globoplay.globo.com/v/11339062/
Referências:
– Infodemia, Fake News and Medicine: Science and The Quest for Truth. EDITORIAL • Int J Cardiovasc Sci 33 (03) • May-Jun 2020
– JAMA Oncol. 2018;4(10):1375-1381