Como são as expectativas dos pacientes?

Seguimos com mais uma parte do artigo de revisão da revista “The Cancer Journal “.

Esse capítulo em especial fala muito aos profissionais de saúde, sobre como melhorar a comunicação com seus pacientes.

Mas acho importante falar sobre isso, por receber diariamente muitas pacientes insatisfeitas com suas relações com seus médicos. Então no final, falo um pouco de como tentar melhorar isso, a partir desses estudos.Vamos lá:

Estudos revelam que mais de 65% dos pacientes que passaram pelo câncer e 45% dos que estão em tratamento oncológico fazem uso de Terapias Complementares e/ou da Medicina Integrativa.

Oncologia Integrativa é um campo da oncologia centrado no paciente, baseado em evidências científicas que utiliza abordagens não medicamentosas e modificações no estilo de vida, de forma complementar ao tratamento convencional. Podemos citar por exemplo, acupuntura, terapias mente-corpo (meditação/yoga), exercícios, etc.

Por outro lado, a Medicina Alternativa frequentemente envolve a rejeição ao tratamento convencional e usa terapias sem evidências científicas. Seu uso, no lugar dos tratamentos considerados padrão, está associada a uma menor sobrevida.

Mas por quê cada vez mais tantas pessoas recorrem a essas terapias?  A mortalidade por câncer vem caindo ao longo do tempo, assim temos mais pessoas que tiveram a doença e carregam seqüelas de seu tratamento e de sua doença. Por exemplo, citamos a fadiga, a dor crônica, fogachos(calores), insônia, etc.

Na presente revisão foi constatado que 76% dos usuários das terapias complementares, fazem uso de algumas ervas, suplementos, chás e homeopatia, sendo que algumas substâncias podem interagir negativamente com as medicações usadas no tratamento convencional.

Um estudo avaliou a expectativa dos pacientes quando adotam essas terapias. 18% alegaram acreditar que estariam aumentando a habilidade do corpo em lutar contra o câncer. 15% disseram que era uma forma de participarem também ativamente nessa luta e 3% acreditavam se tratar de remédios capazes de curar o câncer.

Outros dados importantes foram coletados: Em geral, são os pacientes mais jovens e com maior escolaridade que mais fazem uso de abordagens complementares, e normalmente, com grande influência de familiares e amigos.

Em geral, o uso de terapias não-convencionais é feito sem o conhecimento da equipe de saúde assistente. Isso se deve por três motivos:

📍 o paciente percebe que a equipe assistente é pouco informada sobre essas terapias;
📍 a equipe tem uma postura negativa diante do tema;
📍 a consulta é curta para abordagem do assunto.

Por tudo isso, vemos que é extremamente importante que os profissionais de saúde aprendam sobre as Terapias Complementares, Medicina Integrativa e mais, tentem reavaliar a forma como conduzem sua interação com seus pacientes.


Uma revisão com 36 estudos sobre práticas na comunicação relacionada a tratamentos complementares falam sobre como realizar uma comunicação efetiva com o paciente:


📍 Ter certeza de que o paciente tirou suas dúvidas e entendeu tudo que foi explicado;
📍 Respeitar diferenças culturais;
📍 SEMPRE perguntar se o paciente usa terapias complementares;
📍 ESCUTAR sem interromper;
📍 Entender o estado emocional da pessoa e falar de acordo com ele;
📍 Respeitar crenças pessoais;
📍 Orientar de acordo com as evidências científicas;
📍 Resumir os principais pontos da conversa ao final;
📍 Documentar tudo no prontuário;
📍 Manter o acompanhamento durante todo o tratamento.

O fornecimento de conteúdo e informações relacionados à terapias complementares deve ser idealmente assistido por especialistas experientes em Oncologia Integrativa. Mas o modo como abordar esses tópicos e estabelecer um vínculo com os pacientes está nas mãos dos profissionais da oncologia que estão na linha de frente, presentes no dia-a-dia dos pacientes.

Diante disso, acho válido lembrar a importância de todos os pacientes SEMPRE esclarecerem suas dúvidas com seus médicos. Anotar questões que surgem entre as consultas e conversar pessoalmente a cada encontro.

Seja franco com quem lhe atende, às vezes, não conseguimos perceber quais são as angústias e perguntas pertinentes. Precisamos que vocês nos mostrem esse caminho. Nossa relação é uma parceria, devemos andar de mãos dadas sempre !

Nem sempre conseguimos criar um vínculo com os profissionais que nos atendem, não só ma medicina, mas em qualquer serviço. Vale sempre a pena conversar sobre o que não funciona na relação. E em último caso, trocar de profissional. O importante é nos sentirmos confiantes e acalentados por quem cuida de nós.

Dúvidas? Deixe aqui.

Referência:
Managing Patient Expectations – Integrative, Not Alternative
Latte-Naor, Shelly MD
The Cancer Journal: September/October 2019 – Volume 25 – Issue 5 – p 307–310