Coisas que os pacientes com câncer ouvem (mas não deveriam ouvir)
Vamos começar 2024 com reflexões?
Por que a falta de empatia e tantas perguntas/comentários dispensáveis passam a pertencer à rotina (já nada fácil) dos pacientes?
BOM SENSO (ou “semancol”, como preferirem), pasmem, é de graça!
Com as conversas que tenho com meus queridos pacientes, aprendi (e aprendo) muito todos os dias.
Alguns temas são extremamente frequentes e depois de tantos anos de caminhada, acredito que falar um pouco sobre eles esquenta o coração.
E por isso, estou aqui.
Vamos lá?
O que os pacientes não devem ouvir:
“Se eu fosse você não comia isso/tomava o chá-de-não-sei-o-quê / comprava a vitamina tal”.
Já não bastassem todas as notícias falsas das mídias, existe sempre alguém que palpita em relação à alimentação. Opina sem saber os sintomas presentes, quais as medicações em uso e nem faz ideia de que há uma equipe especializada para dar orientações.
Algumas vitaminas / chás interagem com o tratamento e podem, inclusive, prejudicá-lo.
Agradeça o conselho ou simplesmente se afaste. Faça da forma que sentir melhor.
Ah! Se ficar com dúvidas, pergunte ao seu médico!
“Por que não raspa toda a cabeça/ coloca uma peruca/ um lenço?”
Cada um sabe o tamanho de sua dor. Já vi pacientes que preferiram raspar a cabeça para não vivenciar a queda paulatina do cabelo. Outros dizem que a peruca incomoda e é quente.
Ainda há quem queira tentar ficar ao máximo com seu cabelo para agradar o marido ou para ter a sensação de que ficou com o cabelo até quando conseguiu.
NÃO IMPORTA!
Cada um sabe suas razões.
“Se fosse você, preferiria tirar logo a mama toda.
Cada paciente tem sua história, corpo e medicações. Tenho um post que explica tim-tim por tim-tim o porquê de cada cirurgia.
“Você é tão nova/bonita para ter câncer”.
Ninguém escolhe ter nenhuma doença em idade alguma, não vale a pena atribuir mais um peso a esse diagnóstico.
“Você é forte, vai passar por isso”.
Quando se está sofrendo, a dor parece ser mais forte, independentemente do que disserem.
Das coisas que poucos sabem:
Viver o diagnóstico e o tratamento oncológico é algo extremamente solitário. Por mais que o paciente tenha uma família e amigos presentes, só ele sabe o tamanho de sua tristeza e ansiedade.
Raramente dividimos com quem amamos todas as nossas dores.
Afinal, não queremos deixar ninguém triste ou preocupado.
Há quem chore sozinho no chuveiro todos os dias à tarde para não ser ouvido.
Há quem chore no carro escondido.
Só quem vive sabe a dificuldade em abandonar o cabelo, o corpo que já teve e a vida que tinha antes.
Vamos fazer esse carinho durar o ano todo!
Vamos multiplicar amor.