“Se exercício fosse uma pílula, seria indicado a todo e qualquer paciente com câncer”.

O nosso convidado de hoje é o João Felipe Franca. Ele é médico do exercício e do esporte e trabalha na Clinimex, no Rio de Janeiro. Ele vai nos falar um pouco, sobre o papel da atividade física na rotina do paciente oncológico. Vamos lá:

Sobre o editorial do The Guardian do dia 07 de maio:

“As evidências científicas mostram que a inatividade e o sedentarismo são fatores de risco para o surgimento de neoplasias e que a prática regular de exercícios físicos reduz a chance do desenvolvimento de câncer, tanto em quem nunca teve, como em quem já teve, além de atenuar os efeitos do seu tratamento.
A Sociedade Australiana de Oncologia Clínica publicou recentemente, um posicionamento institucional sobre a função do exercício físico como terapia adjuvante para o tratamento do câncer. Este posicionamento foi endossado por 25 organizações de saúde muito influentes e a mensagem principal mostra que o exercício físico é um componente essencial no tratamento. O documento encoraja todos os profissionais de saúde envolvidos com o paciente oncológico, a discutir a função do exercício físico no processo de recuperação, além de recomendar a todos os pacientes a se inserirem nas diretrizes de  de exercício físico propostas pela Organização Mundial de Saúde e a encaminhar os pacientes para um profissional de saúde (medico do exercício e do esporte, educador físico ou fisioterapeuta experientes em tratamento de pacientes com câncer por exemplo) capaz de prescrever e supervisionar o exercício físico.

Fique de olho:

As pesquisas mais antigas sobre os benefícios do exercício físico para os pacientes com câncer vêm desde a década de 80, em pacientes com câncer de mama diagnosticado. Já naquela época, se percebia que mulheres ativas tinham menos incidência de câncer de mama e que mulheres que passaram a se exercitar depois do diagnostico de câncer, tinham menos chances de ter recidivas da doença.  Percebeu-se que a intervenção terapêutica através do exercício, além de trazer benefícios – como atenuar os efeitos do tratamento tanto quimioterápico como radioterápico- era bastante segura, com baixo risco de lesão ou piora do quadro clínico. Além disso, trazia outros benefícios a saúde como melhor autoestima, melhor controle do peso corporal e do estresse emocional e melhor qualidade de vida.
Historicamente, o diagnóstico de câncer já foi como um condenação para o fim de vida e a reclusão e inatividade física acabavam acontecendo em face de um prognostico sombrio. Com os avanços do entendimento melhor do desenvolvimento dos vários tipos de câncer e das técnicas terapêuticas, o prognóstico melhorou, mas a cultura de o diagnóstico de câncer sempre impôs também incapacidade, reclusão e baixa qualidade de vida.
Atualmente há evidências inquestionáveis de que pessoas que se exercitam regularmente experimentam menos efeitos colaterais e menor gravidade de sintomas relacionados ao câncer e ao seu tratamento como fadiga, stress mental e perda da qualidade de vida. Inquestionavelmente também experimentam menor chance de recidivas da doença.

Recomendações Atuais:

As diretrizes para recomendação do exercício físico elaboradas pela Organização Mundial de Saúde preconizam exercícios aeróbicos durante pelo menos 150 minutos por semana de moderada intensidade ou 75 minutos por semana de alta intensidade ou uma combinação dos dois, assim como exercícios de flexibilidade e de fortalecimento muscular 2 a 3 vezes por semana e de equilíbrio corporal na maioria dos dias da semana para pessoas acima de 60 anos.
Do ponto de vista prático, o exercício de moderada intensidade é aquele em que você pode falar mas não cantar, por exemplo. Aquele em que em uma escala de 0 a 10, você daria 5 ou menos. Ou aquele em que a frequência cardíaca não passe de 50 a 60% da frequência cardíaca máxima. Já o exercício de alta intensidade é aquele em que você até consegue falar mas não consegue manter uma conversa ou aquele em que numa escala de 0 a 10, você daria 6 ou mais ou em que a frequência cardíaca ficaria 70 a 80% da frequência cardíaca máxima. Exercícios mais intensos parecem gerar melhores resultados, mas devem ser prescritos e elaborados de forma planejada e gradativa.
Claro que cada indivíduo deve ter sua dose de exercício físico (aeróbico e não-aeróbico) apropriada e deve ser recomendada a partir de avaliações físicas e medicas especificas com a finalidade de otimizar os benefícios à saúde e reduzir os riscos impostos pelo exercício, como lesões ortopédicas, principalmente, ou cardiovasculares, reumatológicas, etc. A principal dica para o iniciante na prática do exercício físico é não se lesionar e para reduzir a chance disso acontecer, uma orientação individualizada e profissional é fundamental.”

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Autor: João Felipe Franca
Médico do exercício e do esporte
Clinimex – Medicina do Exercício